"HÁ ESPERANÇAS QUE É LOUCURA TER. POIS EU DIGO-TE QUE SE NÃO FOSSEM ESSAS JÁ EU TERIA DESISTIDO DA VIDA." José Saramago em Ensaio Sobre a Cegueira.
O falecimento do escritor português José Saramago, é mais um capítulo da história da humanidade que entristece todo aquele que consegue se desvencilhar da alienação, imposta dia após dia por uma ideologia onde os fins têm justificado os meios, imperando assim a miséria, o egoísmo, a fome, a morte por inanição enfim, o desrespeito para com o ser humano.
Sensível aos problemas da humanidade dedicou sua vida e obra explicitando de uma forma lógica e clara os pormenores da ideologia excludente do capitalismo, focada no ter e não no ser.
Em uma de suas obras, “Ensaio sobre a cegueira”, Saramago nos tenta passar uma imagem de caos, a “desumanidade da humanidade”, tendo em vista que a sobrevivência é colocada em cheque, além dos verdadeiros sentimentos que movem o indivíduo. Sob estas perspectivas os instintos selvagens se sobressaem em detrimento de uma lógica social, o que por certo levará a humanidade ao fim.
Saramago instiga, nesta obra, o ser humano perceber sua condição de idealizador de seu próprio futuro, futuro enquanto ser social, a diferença é que no caso do individuo hoje, este não é cego e pode mudar a realidade, do contrário a ficção se torna realidade e o fim chegará.
A forma que Saramago expõe no livro a questão da cegueira total torna a leitura mais suave, sem, no entanto deixar de explicitar os podres da sociedade, além de colocar o quanto de bondade os maus podem fazer, como de maldade os bons são capazes. É um retrato vivido do que seria a humanidade se todos perdessem a referência e a identidade, visto que independente de condição social, cor, credo, no fundo todos são iguais e em situação extremas, agem de forma a defender-se. Enfim, o “Ensaio sobre a cegueira” é uma crítica aos valores sociais, pois a narrativa leva-nos a refletir sobre a moral, os costumes, a ética e o preconceito.
A morte de Saramago é a morte de um escritor que defendia a justiça, a simpatia, a bondade e a beleza vista com olhos não dotados de interesses, mas simplória, ingênua.
O mundo se torna menos justo e mais burro, ou como disse Fernando Meirelles “mais burro e cego”, pois Saramago se foi.
Fica, no entanto a mensagem, a ideia de que para conseguir basta querer e se dedicar.
Fica a mensagem do amor singelo, honesto, simples e profundo, o mesmo amor que Saramago tinha por sua Pillar, esposa e companheira.
Perde o mundo, mas fica a esperança e as mensagens, resta-nos reler os livros e compreender a profundidade dos mesmos e fundamentalmente aplicar as lógicas ali expostas.
Parabéns pela lembrança Elisandro...
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